
Até onde o protesto reflete a verdade? Foto: Fábio Ruas
Em maio de 1959 – um ano antes da inauguração oficial de Brasília – nascia o Campeonato Candango, ainda amador, tendo como campeão o Grêmio Brasiliense. Com o passar dos anos, surgiu a primeira rivalidade entre Defelê e Rabello, anos depois o CEUB começou a despontar e apareceu no cenário nacional. O campeonato se profissionalizou em 1976, outros clubes começaram a fazer história como Brasília, Taguatinga, Sobradinho, chegando até o Candangão como conhecemos hoje, onde os principais destaques são Brasiliense e Gama.
E por que essas informações são relevantes? Para provar: existe futebol no Distrito Federal.
Tudo bem, nossos clubes podem não ter ganho nenhum título do Campeonato Brasileiro, sequer disputaram uma Libertadores e consequentemente não criaram uma identidade com sua população a ponto de bater de frente com as grandes torcidas do Brasil – muito por conta da pouca idade de Brasília. Mas, existe futebol no Distrito Federal, ele é nosso e merece respeito.
Em 2013, com a “despedida de Neymar” na partida entre Flamengo e Santos, no Mané Garrincha, criou-se a cultura de menosprezo ao futebol do Distrito Federal – venda de mandos de campo.
Os grandes clubes do Brasil foram vistos como a “salvação” para o Elefante Branco fruto de muito dinheiro público chamado Mané Garrincha, a Federação de Futebol do Distrito Federal tinha a oportunidade de ganhar muito dinheiro – a instituição leva uma parte da renda de todos os jogos disputados em solo candango.
Bom, pensando pelo lado de que a federação iria ganhar dinheiro, o Candangão teria maior investimento, se por um lado seria ruim por ter clubes de fora “fidelizando” aquele que poderia ser o público do futebol do Distrito Federal, por outro não iria faltar dinheiro para se investir no campeonato. Errado!
O Candangão não evoluiu. Um presidente foi destituído do cargo. O campeonato perdeu arrecadação e o dinheiro ficou tão escasso que até hoje a federação tem dívidas pendentes com a arbitragem do torneio de 2017.
Deixo bem claro também, meu objetivo não é despejar críticas à federação, sabe por que? Os clubes não fazem nada e os clubes “são a federação”. Interesses próprios são prioridade, ninguém está preocupado em fazer do Candangão um campeonato melhor, mas sim derrubar o rival, por mais que também esteja no buraco.
Volto para minha expressão: “criou-se a cultura de menosprezo ao futebol do Distrito Federal – venda de mandos de campo”.
Começo pela questão do torcedor de clubes de fora. É o cara que escolheu torcer por uma equipe que não tem sua sede, concentração de torcida ou estádio no Distrito Federal. Não é errado, tem seus princípios para isso, mas, obviamente, por ser de outro estado, não é a prioridade de quem comanda o futebol local. Não no futebol candango. Com essa “cultura” a qual me refiro, o futebol candango passou a ser segundo plano. Veja os exemplos:
– Em 2016, a partida de maior apelo popular do Candangão, o clássico entre Gama e Brasiliense estava para acontecer, mas com uma indefinição: o palco da partida – o estádio Abadião, onde o arquirrival mandava suas partidas, tinha uma forte resistência da cúpula gamense. Flamengo e Fluminense também disputariam um clássico pelo Campeonato Carioca no Distrito Federal – campeonato do Rio no DF (?) – e o palco seria o Mané Garrincha. Qual a grande ideia? Colocar a partida mais importante do futebol candango como preliminar do Fla-Flu a ser disputado por uma competição estadual do Rio de Janeiro. E, até hoje, fico me perguntando quem desistiu dessa ideia ridícula: será que o bom senso falou mais alto que o dinheiro? Pergunta difícil.
– Nesse Candangão, o duelo entre Gama e Samambaia estava agendado para um domingo (4/2), às 17h, mesmo horário da partida entre Nova Iguaçu e Flamengo pelo Campeonato Carioca, no estádio Mané Garrincha – um “amistoso de luxo”. Foi novamente definido que o Campeonato Carioca era prioridade em Brasília e a partida do Candangão teve de ser disputada em uma segunda-feira, às 20h.
– Para terminar, há poucos dias saiu uma matéria no Correio Braziliense relatando como é o pagamento das taxas de aluguel do Mané Garrincha. Clubes de fora alugam o estádio por uma taxa de 5% da renda bruta, enquanto os clubes daqui pagam 15%, ou seja, três vezes mais.
Quem será a prioridade no futebol candango?
Se chegou até aqui, volte e releia o primeiro parágrafo e lembre-se: o Distrito Federal tem futebol, sim. Ele é nosso, devemos valoriza-lo.
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